Sunday, February 6, 2011

Reflexões sobre Rússia, Miami e o Comunismo

Uma das sensações mais estranhas que tive na Rússia, um país que sempre tive enorme curiosidade em conhecer, foi passear por uma galeria com algumas das marcas mais conhecidas do planeta, como Zegna, Prada, Dolce & Gabbana, etc.
Não haveria nada de anormal nisso se não fosse pelo fato da galeria ficar localizada justamente ao lado do Kremlin, bem em frente ao túmulo de Lenin, um dos maiores pensadores e símbolo maior do comunismo (junto com Marx), ideologia que dominou trinta e cinco por cento da população mundial durante décadas.
Hoje em dia o comunismo está isolado em dois países, Cuba e Coréia do Norte, curiosamente nações que sofrem pesados embargos e sanções econômicas por parte da comunidade internacional, em especial os Estados Unidos. China e Vietnam, apesar de manterem um regime de estado único, a partir dos anos 80 vêm adotando um “socialismo de mercado”, visando manter a estrutura política que desejam, sem enfiar seus países numa crise econômica e social intensa.
Apesar disso, o comunismo é uma ideologia ainda existente, ainda que tenha passado por crises e alterações. Diversos países possuem partidos comunistas, alguns em franca expansão, em grande parte devido à recente crise financeira mundial.
O que o comunismo prevê, imagina, antevê, é lindo, ideologicamente, mas não representa a realidade. Tirando todo o ludo ruim do comunismo, como a ditadura do proletariado e o partido único, sua idéia central, que todos somos iguais não é verdadeira.
Somos inerentemente diferentes, pensamos diferente, temos diferentes necessidades, diferentes desejos. A luta não se deve dar pela luta da igualdade literal, o que tende a ser extremamente destrutiva para o ser humano, acabando com seus sonhos e ambições, mas da igualdade jurídica, de direitos, de oportunidades.
A verdadeira igualdade de direitos é uma ambição dificílima de ser alcançada. Meu país (Brasil) e diversos outros países latino-americanos prevêem proteções e garantias às suas populações, mas por diversos motivos – restrição em seus orçamentos, corrupção, falta de planejamento – não conseguem cumprir interamente com seus objetivos.
Isso leva ao pensamento que a democracia liberal capitalista é um engodo. Um sistema que jamais trará benefícios para todos os setores da população. E, principalmente, que não funciona nos países do continente americano, ou africano, pois sempre lhes restou um resquício do bolo, uma fração pequena do comércio e capital global, sempre circulando em poucas mãos.
Nesse cenário, Cuba aparece com freqüência como um grande exemplo, uma nação que, apesar de sofrer um embargo violentíssimo há décadas por parte da maior economia global, consegue oferecer um dos melhores serviços de saúde do mundo, educação de qualidade para toda a população, que é cem por cento alfabetizada.
Cuba, como os outros países comunistas, recompensa seus trabalhadores, não importa seu nível intelectual e funções, num valor muito aproximado (ressalte-se que o país está quebrado, o que colabora com o problema).
 É verdade que num sistema comunista existe uma divisão do trabalho, alguns são considerados aptos para exercer determinadas funções, mais braçais, outros, mais intelectuais, etc. Mas cabe a questão: e a recompensa? Poder-se-ia argumentar que a recompensa é servir bem ao país, à comunidade. Que a recompensa se dá em maiores responsabilidades, no prestígio e respeito da comunidade e muitas vezes do próprio governo.
Entretanto, cabe a pergunta: será isso suficiente? Exemplo: Miami, onde vivo atualmente, há uma grande comunidade de cubanos e cubano-americanos (americanos de ascendência cubana). Já pude conhecer cubanos nas mais variadas situações econômicas e sociais. Desde trabalhadores braçais – ou “obreros” como são conhecidos em espanhol –, a trabalhadores assalariados, a profissionais liberais, como médicos e advogados. Alguns prosperaram mais, outros menos. Alguns ganham grandes salários, outros batalham pela sobrevivência diária. Uns são fluentes em inglês, inclusive com limitado conhecimento de espanhol (por inclusive serem nascidos por aqui), outros mal conseguem se comunicar no idioma de Shakespeare. Uma coisa é certa, se estivessem em Cuba estariam ganhando o mesmo salário, ou salários muitos parecidos. Será isso justiça? Afinal algumas pessoas passam anos se preparando para uma profissão, cursando universidades e mestrados, aprendendo idiomas... Outros fazem trabalhos mais técnicos, menos intelectuais, mas igualmente importantes. Não chegam a estudar tanto, mas muitas vezes freqüentam um curso técnico que lhes dá uma aptidão especial para algum serviço.
Como o valor do trabalho pode ser medido, é matéria de debate entre economistas há séculos. Entretanto, trabalhos são inerentemente diferentes e afetam a sociedade de maneiras diversas. O valor a eles tem que ser dado de forma distinta. Qual valor é difícil para eu dizer, advogado com parcas noções de economia. Mas igualar a todos não parece a solução. Quebra-se o espírito humano, o desafio da conquista e as diferenças inerentes entre os seres humanos. O que não significa que as pessoas não devam viver com dignidade, mas essa é outra história.

No comments:

Post a Comment