* Texto escrito originalmente em novembro de 2009
Essa semana, a Alemanha comemora uma de suas datas mais simbólicas, os 20 anos da queda do Muro de Berlim, símbolo da divisão entre o mundo capitalista e o mundo comunista. Esse muro opressor e medonho trouxe sofrimento para milhões de cidadãos alemães, que tiveram seu país dividido em duas ideologias, separando familiares e ceifando a dignidade da população.
Há também 20 anos, ocorreu no Brasil um fato de certa importância, as primeiras eleições diretas para Presidente da República, direito esse extraído da população desde o início do ciclo do Regime Militar.
Nesses vintes anos, o Brasil passou por mudanças consideráveis: a abertura do mercado para as importações, a estabilização da moeda, a responsabilidade fiscal, as diversas privatizações de estatais, que significou um estado mais enxuto, e a estabilidade democrática.
Tantas foram as conquistas do Brasil e tantos são seus potenciais, que a despeito do crescimento baixo para um país emergente, na ordem de 2,5% a 3%, nos últimos quinze anos, o economista Jim O’Neil cunhou em 2001 o termo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), para referir-se aos países que deverão ser as economias mais dominantes no ano de 2050.
Decerto podemos perceber uma maior influência do Brasil, tanto culturalmente, quanto economicamente no mundo. Nossos produtos exportados, ainda que primordialmente commodities, incluem marcas tão conhecidas e diversas como aviões da Embraer e as sandálias Havaianas.
Obviamente, que temos problemas, como falta de segurança jurídica, lentidão do judiciário, corrupção e burocracia do Estado, que afugentam potenciais investimentos, porém tais são questões que afetam, em maior ou menor grau, todos os chamados países em desenvolvimento.
Entretanto, uma questão permanece como o problema central do Estado do Brasil, o problema da educação.
A educação é um problema histórico que gera um país menos competitivo, com mão de obra desqualificada, o que adiciona para o custo-Brasil.
Para se ter uma idéia, apesar de 90% da população ser alfabetizada, 25% dos brasileiros podem ser considerada como analfabetos funcionais, segundo última enquete realizada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE) neste ano.
Analfabetismo funcional é a condição na qual o indivíduo assina seu nome e consegue ler textos simples, mas não consegue interpretar um texto minimamente mais complexo ou articular uma idéia no papel. Ainda que não possam ser considerados analfabetos funcionais, estima-se, em pesquisa realizada em 2005 pelo Ibope, que 75% da população brasileira acima dos 15 anos apresenta alguma deficiência séria na leitura ou na escrita.
Além disso, ainda que tenha havido praticamente a universalização do ensino básico (97% das crianças matriculadas) na última década, o que, teoricamente, asseguraria pelo menos o futuro das próximas gerações, a realidade que se põe é muito mais pessimista. O índice de desistência é altíssimo, havendo diversos jovens que abandonam o ensino por falta de interesse ou para ingressar no mercado de trabalho e o de repetência seria maior, se não fosse pelo instituto da avaliação contínua. O ensino médio completo no país atinge apenas 22% da população. Milhões de jovens brasileiros saem da escola sem formação concreta nenhuma. Só 13% dos brasileiros entre 18 e 24 anos freqüentam o ensino superior, o pior índice entre todos os países latino-americanos, sendo que apenas 9% o concluem.
Das pessoas matriculadas em ensino superior, 25% estão matriculadas em faculdades públicas e 75% em faculdades privadas, grande parte de péssima qualidade. Infelizmente, a escola não dá a base e as faculdades pressionadas por razões mercadológicas, não ensinam senso crítico e o pensamento lógico. Falta incentivo governamental à formação dos alunos, à formação de professores, a melhores salários, a programas extracurriculares, intercâmbios, a exemplo do que ocorre nos outros países do BRIC.
Assim, o abismo educacional contribui para um país mais desigual. A desigualdade ocorre também entre regiões, visto que por estarem as grandes empresas nos grandes centros urbanos, conseqüentemente os bons empregos, as boas faculdades também estão.
Sendo assim, diversas regiões do país que poderiam se desenvolver mais, não se desenvolvem tanto, devido a esse abismo educacional. Para alguns investidores corajosos tais lugares são a nova fronteira, porém em diversas ocasiões, no caso de investimento de maior porte, faz-se necessário contratar mão de obra especializada de outras regiões – particularmente sul e sudeste.
O Brasil cresce, mas poderia crescer muito mais e de forma mais sustentável se adotasse a lição de outros países do BRIC e – a exemplo da China, com 99,8% de seus jovens alfabetizados – investisse em maior grau em educação de qualidade.
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