Acesso rapidamente a internet num dia nublado e chuvoso aqui de Miami – sim, há dias nublados e chuvosos aqui em Miami – e rapidamente leio as notícias sobre o Brasil.
Entre as principais destacam-se as sobre eleições, já num link no fundo do site, tristemente leio uma notícia que já se tornou rotina: a de que grupo armado entrou em nem sei qual condomínio, rendeu o porteiro, amarrou com fita crepe mais de 20 moradores, levou tudo que havia de valor e partiu. Até a ocasião a policia não havia prendido ninguém. A vantagem é que ninguém havia sido ferido. Sim, como todos estão cansados de saber, isso é uma vantagem hoje em dia...
Nunca entendi toda essa violência e criminalidade no Brasil. Quer dizer, entendo racionalmente, ainda somos uma sociedade muito desigual, grande parte da população vive em situação de enorme pobreza, de desespero, de luta pela sobrevivência diária.
Minha perspectiva, porém, é que não só pobreza e injustiça explicam a criminalidade. A impunidade, ausência de políticas concretas de segurança pública e a falta de espiritualidade (no sentido religioso ou não) também têm o seu papel na proliferação do crime. Veja-se o exemplo do Egito (majoritariamente mulçumano), a Índia (majoritariamente hinduísta) e diversos países budistas do sudeste asiático com taxa de criminalidade bem menor que a nossa para perceber-se a correlação.
Entretanto, num momento tão fantástico para a economia brasileira, num momento que nosso país começa a ser percebido como uma potência econômica, fugindo-se de velhos estereótipos, como prostitutas, mulatas e carnaval, a todo momento existe essa lembrança constantes nas ruas, nas notícias, na nossa experiência pessoal de cada dia, que ainda somos, em diversos aspectos, socialmente e politicamente, um país muito atrasado.
É claro que existe um Brasil muito injusto, onde metade da população ainda não tem acesso a esgoto, onde parte das comunidades carentes e favelas são controladas pelas milícias e pelo tráfico – o que já um absurdo ter favela, afinal todos deveriam viver numa moradia digna –, onde o conflito no campo se assemelha a um verdadeiro faroeste, onde existe essa divisão social bizarra entre patrão e empregada doméstica, onde a corrupção, paternalismo e clientismo ainda são problemas gritantes...
O Brasil que visualizo, porém, o Brasil que amo e sinto falta, é um país de povo alegre, batalhador, que apesar de todas as dificuldades, enfrenta a vida com entusiasmo. É um povo hospitaleiro, esperançoso e cordial. É um país de uma riqueza musical enorme, com todos os ritmos e tambores. É feliz, mestiço e tolerante religiosamente. É onde as diferenças são aceitas. É terra de comida maravilhosa, que vai desde nossas preciosidades nacionais, até a culinária de toda a parte – mas sempre com um tempero essencialmente brasileiro.
O Brasil em essência é um país maravilhoso. É um país especial. Tenho o maior orgulho de ser brasileiro. Entretanto, esses Brasis conflitantes, esses Brasis infelizes, desanimam-me. Desanimam-me pensar em criar uma família nesse Brasil, desanimam-me nos valores que meus filhos terão nesse Brasil, onde consumir é ser. Onde andar de carro blindado é uma garantia de segurança. Onde os muros altos separam um dos outros...
Não faço apologia ao socialismo, à abolição da propriedade privada ou de festas e eventos sociais exclusivos. Entretanto, temos que pensar num país onde todos se sintam igualmente brasileiros, onde todos se achem parte de um projeto maior, de um destino, de uma nação.
O Brasil tem que ser uma nação para todos. Ainda que alguns tenham que viver com um pouco menos de mordomia, para que outros possam viver um pouco melhor. A solução passa, portanto, pela inclusão do indivíduo no tecido social do país.
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