Friday, December 8, 2017

Reflexões Sobre as Eleições na França



(Publicado originalmente no Linkendin, na época das eleições francesas de 2017)

Eleição na França hoje.
Principal previsão: Emmanuel Macron e Marine Le Pen no segundo turno.
Ao final, muitos franceses que simpatizam com Le Pen e com sua plataforma, ficarão com vergonha de votar nela no segundo turno, para não serem taxados de racistas, xenófobos, fascistas, etc. (recorda-se que a França tem um forte espírito solidarista, e muitos franceses querem se ver como modernos, conectados com o mundo e "avant-garde").
Macron , político jovem, ainda não testado pelas urnas, que evita rótulos, mas se aproxima do "centro", ou, "não sou de direita, nem de esquerda, nem de centro" (mas que recorda-se era filiado até recentemente ao Partido Socialista e foi Ministro da Economia do atual presidente socialista, François Hollande), com o apoio de todos, inclusive, da direita gaulista (Os Republicanos, ex-UMP), dos Socialistas, da grande mídia, de Soros e do Open Society, do sistema financeiro internacional, da União Européia, se elegerá presidente.
Independente do vencedor, a França corre o risco de seguir estagnada e mergulhada no caos econômico e social (recorda-se que Macron criou uma legenda que não é um partido, que não possui uma única cadeira sequer no parlamento francês. E para governar terá que obter apoio de algum dos grandes partidos, seja a UMP, seja os socialistas).
Protestos poderão continuar a ocorrer de forma violenta, sobretudo por pautas reformistas de Macron.
É minha previsão.
Previsão alternativa: Le Pen não leva agora em 2017, mas em 2022, a depender do governo que Macron fizer, levará. 
Ele é a última chance que há de abortar as chances da Frente Nacional chegar ao poder... 
Se houver descontentamento com o Governo Macron pelos próximos cinco anos, ele visto como alguém fora do sistema (não está ligado a nenhum dos grandes partidos, apesar de, recorda-se, ter sido filiado ao Partido Socialista no passado), o eleitorado francês em sua maioria finalmente votará na Frente Nacional.
Não tenho uma bola de cristal, mas essa é minha previsão, como indivíduo, acadêmico e estudioso dos sistemas políticos-eleitorais, sobretudo o sistema francês...
Por último, confesso que, a despeito de crer que a adoção do Euro foi um desastre para toda a Europa, em termos de políticas econômicas, prefiro bem mais o Macron, que a Le Pen (tampouco me identifico com o tom excessivamente xenófobo de Len Pen - e me considero um francófilo, um amante da França). Na ânsia de conquistar o trabalhador francês, suas propostas são quase tão socialistas e tão intervencionistas quanto as defendidas pelo Partido Comunista francês (1)... (sua sobrinha, Marion, que é deputada, inclusive disse que a FN tem mais afinidade com os eleitores do candidato comunista Melechen - que recorda-se queria tributar em 90% rendimentos considerados mais elevados -, do que com os eleitores de Macron...) (2)
Ao final, é como sempre dizem, a extrema-direita, e a esquerda-esquerda, têm muito em comum, sobretudo seu nacionalismo exacerbado e mentalidade estatizante...
(1) Fonte: http://www.ilisp.org/artigos/18-propostas-socialistas-de-marine-le-pen-candidata-que-midia-chama-de-extrema-direita/

Tuesday, May 9, 2017

Ode à minha bisavó Yeda

Faz bastante tempo que não uso esse blog pessoal, porém hoje minha bisavó, Yeda, faleceu aos 102 anos (iria completar 103 anos, mês que vem), e creio que ela merece essa singela homenagem.
Ela nasceu em junho de 1914, em Belo Horizonte. No cenário mundial, viveu as duas grandes guerras mundiais (1914-1918) e (1939-1945), a ascensão do comunismo, em 1917, a ascensão do fascismo, em 1923, a ascensão do nazismo, em 1933, a queda de ambos os regimes em 1945 (porém não, infelizmente, do comunismo), o período de descolonização africano e asiático, pós Segunda Guerra e a Guerra Fria, a construção do Muro de Berlim, em 1961, mais recentemente a queda do mesmo Muro, em 1989, e finalmente o esfacelamento do Império Soviético, em 1991.
No Brasil, presenciou a República Velha (1889-1930), o Movimento Tenentista em 1922, e posteriores contestações àquele regime, a Revolução de 1930, o Integralismo, a Intentona Comunista, o Estado Novo, de 1937 a 1945, a República Liberal Popular, de 1945-1964, com figuras como JK, Jango, Jânio Quadros e Carlos Lacerda, o Regime Militar, de 1964 a 1985, cinco constituições (1934, 1937, 1946, 1967, 1988), e a nossa frágil democracia desde então...
Para as feministas de plantão, do tipo "meu corpo, minhas regras", ela, uma mulher então estonteante (até o final da vida, bastante elegante), foi a primeira mulher a se divorciar no estado de Minas Gerais, na época um verdadeiro escândalo, isso em plana década de 40, feito pelo qual ela não teve nenhum apoio da sociedade local belo-horizontina, o que a levou a ter que se mudar para o Rio de Janeiro e posteriormente São Paulo. Teve que se sustentar na época e criar uma filha, minha avó, com seu próprio trabalho, no caso uma confecção de roupas. Gerou empregos, como pequena e média empreendedora, e nunca dependeu de ninguém (posteriormente teve um outro filho, já adulto, com filhos também adultos).
Ademais, foi modelista, e  uma das primeiras brasileiras a estudar moda em Paris, já adulta. Seu amor pela França e pela "haute-culture" francesa era tamanho, que deu nomes franceses aos dois filhos que teve, Christian Jacques e Adrienne. Até hoje nossa família é ligada culturalmente à França, e a agradeço por isso. 
Deu aula de alta costura (ou, "haute-couture", como se dizia à época), cujo ateliê era na Avenida Higienópolis. Ela foi responsável por toda a criação e modelagem da TAY Confecções, sediada no Itaim Bibi ("Y", naturalmente, de Yeda).
Teve filhos, netos, bisnetos e agora, já ao fim da vida, trisnetos (minha filhinha... )
Sei que todos vamos morrer um dia, e espero que minha bisavó esteja num local melhor (como espírita que era, adepta de Allan Kardec, ela seguramente acreditava nisso), porém é triste os que nos deixam, com sua memória, e mais triste ainda que pessoas que viveram durante um período altamente crucial e cheio de extremos para a história da humanidade, que foi o Século XX (o século onde mais morreu gente em toda a história da humanidade)[1] estejam nos deixando, ou já nos deixaram faz um bom tempo (em alguns casos há mais de vinte anos). Não podemos mais estar com essas pessoas, para nos contarem histórias e nos fazerem companhia.
Rezo e penso na minha bisa, pois eu gostava muito dela, e sei que ela gostava de mim. Algo que nunca lhe faltou foi coragem para tomar suas próprias decisões e respeito gente assim...




[1] Recomenda-se, a Era dos Extremos:  o breve século XX, 1914–1991, do historiador britânico, Eric Hobsbawm.