Monday, April 13, 2015

História Recontada, ou História Requentada

História Recontada, ou História Requentada

Quem me conhece bem, sabe que sou fissurado por História, especialmente História do Brasil.

Entretanto nunca olhei com bons olhos essa Comissão da Verdade. Primeiro, pois parece-me ser a verdade apenas de um dos lados (nenhum militar foi convidado para compô-la, por exemplo). A verdade do lado que está atualmente no poder e no passado participou na guerrilha contra aquele regime.

A despeito dos inegáveis abusos cometidos pelos Militares, muitos ex-guerrilheiros, com honestidade intelectual, como Fernando Gabeira e Eduardo Jorge, já declararam que não lutavam pelo restabelecimento do Estado Democrático de Direito, ou pelo retorno do presidente deposto João Goulart, mas uma ditadura do proletariado, ao estilo cubano-soviético.

Ademais, por ter um avô que foi socialista, do PSB, preso naquela ocasião (e durante o Estado Novo, quando então era um jovem estudante de Direito), parece-me que as esquerdas são bem parciais quando querem contar um fato, preferindo ressaltar um lado em detrimento do outro. Um exemplo é o Estado Novo (1937-1945), período autoritário e ditatorial de Getúlio Vargas, que seguramente, em diversos aspectos, como censura à mídia, perseguição à oposição (na época dos militares  havia um Congresso e uma oposição controlada, o MDB, que reunia diversos desafetos do Regime; já na época do Vargas, não havia Congresso nenhum, todos os opositores estavam mortos, presos ou no exílio e ele governava sozinho). Além disso, a tortura, foi talvez pior que no Regime Militar (1964-1985).

Recomendo a respeito o excelente livro do lendário jornalista David Nasser, "Falta Alguém em Nuremberg", sobre a temida polícia do Vargas, liderada pelo brutal Filinto Müller, cujas técnicas de interrogação deixava os militares no chinelo. A tortura, portanto, seguramente não começou quando os militares tomaram o poder, sempre esteve no país, desde a época do Brasil Colônia (vide como Tiradentes foi morto), nem tampouco foi aplicada apenas por aquele grupo (se torturou MUITO em regimes stalinistas-soviéticos).

Parece-me que por Vargas, que começou sua carreira como um ditador fascista, simpático a Mussolini e Hitler, ter passado a Consolidação das Leis Trabalhistas e ter dado um tiro peito em 1954 para alguns, virou um santo, herói nacional das esquerdas, a quem bastante perseguiu. 

Além de não examinar os dois lados na questão (militares e guerrilheiros), a CNV parece-me ter sido parcial nas suas conclusões em relação aos próprios perseguidos durante aquele período, focando suas investigações em uns em detrimento dos outros, por predileções ideológicas.

Um exemplo claro disso foi em relação aos membros da Frente Ampla, grupo de ex-políticos cassados, que fizerem oposição àquele Regime.

Para quem não sabe, Carlos Lacerda, o principal líder da direita no país, jornalista, fundador da Tribuna da Imprensa, e brilhante orador, reconhecido pelos seus principais inimigos, apesar de apoiar o Golpe Militar de 1964, foi alijado do poder quando os militares tomaram o poder. Lacerda, que foi deputado federal e governador do Estado da Guanabara de 1960 a 1965, e virtual candidato pela UDN às eleições presidenciais em 1966, acabou tendo seus direitos políticos cassados por dez anos. 

Juntamente, com seus antigos opositores, os ex-presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart, elaborou um documento chamado Frente Ampla, para defender o retorno às eleições e a vida democrática no país, que, naturalmente, não deu em nada à época, até pela mútua desconfiança que havia entre esses políticos. 

Cerca de dez anos depois, num intervalo de dez meses, todos morreram. João Goulart (do coração) e Juscelino (de um acidente de carro na Dutra), em 1976, e Lacerda (de uma infecção no coração), em 1977.

De todas as mortes, seguramente a de Lacerda foi a mais suspeita. 

Jango era cardíaco, fumante e sedentário. Seu próprio biográfo, que escreveu premiadíssima biografia sobre aquele político, duvida que ele tenha sido envenenado. Morreu em seu exílio no Uruguai, durante uma noite de sono.

JK morreu num acidente de carro na Dutra, seguramente uma das estradas mais perigosas e cheias de caminhões no país (conheço bem aquela estrada - já dirigi nela diversas vezes, inclusive no trecho que o ex-presidente faleceu), quando seu motorista perdeu o controle do automóvel e colidiu com um ônibus. 

Para ambos políticos a CNV gastou verdadeira fortuna em técnicos, perícia, cerimoniais, reportagens, testemunhas, para chegar à conclusão que não houve conspirações e ele morreram conforme a história oficial. Não houve envenenamento para Jango, não houve sabotagem no carro de JK, ou - pasmem - possibilidade de seu motorista ter levado um tiro enquanto estava dirigindo na Dutra a mais de 100 Km/h (sim, essa possibilidade se levantou!)

E em relação ao Lacerda? Lacerda seguramente teve a morte mais suspeita de todos.  Foi internado um dia na Clínica São Vicente, no Rio, com desidratação causada por uma gripe e faleceu no outro, de infecção no coração (endocardite bacteriana). Tinha 63 anos.

Nunca houve investigação a respeito, apesar de pessoas próximas à ele afirmarem este ter sido vítima de um complô e que anteriormente à sua internação era um homem bastante saudável para a sua idade.

Como se pode ver, dois pesos e duas medidas.

Referências: