Por Olavo Caiuby Bernardes
Recentemente, o ex-Presidente dos EUA Barack Obama (2009-2017), lançou sua tradicional lista anual de filmes favoritos, e entre eles estão Uma Batalha Atrás da Outra (One Battle After Another), do diretor Paul Thomas Anderson (garoto prodígio na década de 90, tendo lançado os filmes Boogie Nights (1997) e Magnolia (1999), antes de completar 30 anos, e que deve levar Melhor Filme e Melhor Diretor esse ano, além de O Agente Secreto, do Diretor Kléber Mendonça Filho, pernambucano, cujos filmes sempre passam no estado de Pernambucano, carregando uma forte identidade (e diria até um certo bairrismo) local.
Obama, anteriormente Senador pelo Estado e Illinois, em primeiro mandato, e que chegou à Casa Branca como um outsider, muito gabaritado pelo juventude norte-americana que fortemente doou para sua candidatura, no valor limite de contribuição individual de até US$ 500,00 (ao contrário da pré-candidata mainstream do Partido Democrata, Hillary Clinton, que possuía a máquina do Partido e acesso ao Super-PAC (parecido com o fundo eleitoral, no Brasil), surpreendeu ao mundo ao ganhar o Prêmio Nobel da Paz, em 2009, em seu primeiro ano de mandato, antes mesmo que pudesse construir um legado político significativo, por representar mudança do Governo anterior de George W. Bush (2001-2009), ao fim focou, em termos de política externa, numa política de assassinatos direcionados/target killings, de suspeitos de terrorismo por Drones não tripulados e outras formas de extermínio, numa claro violação do espaço soberano de países, além de uma forte política de deportação de imigrantes não-documentados nos EUA, que deixam qualquer Internacionalista/adapto do Direito Internacional Humanitário, e dos Direitos Humanos, arrepiado...
Mas voltando aos dois filmes em questão. Desde que Tudo Em Todo Lugar Ao Menos Tempo (All Everything Everywhere All At Once) (2022) ganhou o Oscar, percebo filmes que trazem uma desconstrução total (ou uma interrupção abrupta) de um arco narrativo. No caso, de AEVAO, talvez feito de forma bem-intencionada para a Geração Z, que consome conteúdos instantâneos no TikTok, e talvez não tenha concentração para acompanhar um filme com começo meio e fim (e que mais estava me prendendo naquele filme era a dinâmica de uma família de imigrantes chineses nos EUA – e morei com uma família de imigrantes chineses, quando adolescente, na Austrália, quando começa uma ação desenfreada).
Pega-se O Agente Secreto (que levou Melhor Diretor e Melhor Ator para Moura, no Festival de Cannes), é um filme confuso, pesado, longo, com cenas desnecessárias, em que a narrativa não se amarra (como cenas desnecessárias, como de sexo em locais públicos, um personagem judeu alemão, sobrevivente do Holocausto que vive em Recife e fica sendo visitado como se fosse veterano da Wehrmacht, o Exercício Alemão durante a Segunda Guerra Mundial, uma perna voadora, entre outras).
A atuação de Wagner Moura é boa e o filme que passa na segunda metade da década
de 70 é bem produzido, como destaques positivos, mas as imposições narrativas
para impor as visões pessoais do diretor, como se via no seu filme anterior
Bacurau (que aliás todo sulista é um racista/xenófobo camuflado) são absurdas
(por sinal, da mesma forma que nordestinos, pernambucanos, paraibanos, baianos,
não gostam de ser chamados de nortistas, nem nortistas, paraense, amanuenses,
acreanos, por exemplo, gostam de ser chamados de nordestinos; paulistas, NÃO
gostam de ser chamados de sulistas, visto que geograficamente estão no Sudeste
brasileiro, não no Sul - #maisamoremaisgeografianasescolas).
Aliás, esse bairrismo brasileiro, camuflado de “diferenças regionais”,
provavelmente é o fator mais corrosivo na sociedade brasileira, que em todas as
eleições presidenciais aparece a todo vapor, quando algum babaca ou militante
virtual fala alguma coisa real ou imaginária do NE na internet, gerando toda
repercussão de acusações que não trazem NADA de positivo para o país.
Sendo assim, críticas relevantes que aparecem em O Agente Secreto (que faz uma
crítica sútil ao período da Ditadura Militar, particularmente o Governo de
Ernesto Geisel – 1974 a 1979, pós-Milagre Econômico), são apagadas por
imposições de viés ideológico que não servem a um propósito da História – seria
interessante haver esse empenho para trazer outros períodos de exceção do país,
como durante o período do Marechal de Ferro, Floriano Peixoto (1891-1894), que
esmagou revolta na Ilha do Desterro, atual Florianópolis, em Santa Catarina; ou
o período de Getúlio Vargas, Era Vargas (1930-1945), que governou sem
Constituição (1930-1934), ignorando a Constituição então existente (1934-1937),
ou de forma escancaradamente autoritária, com Constituição de inspiração
integralista/fascista (1937-1945, o chamado Estado Novo), suprimindo inúmeras
liberdades civis (e com um forte componente xenófobo e antissemita) durante o
período que esteve no poder.
Como li numa crítica bastante interessante sobre O Agente Secreto, a própria imposição de tantos filmes sobre o período militar (1964-1985), em detrimento de outros períodos, é uma perspectiva ideológica de se apagar a história recente do país, que o filme tanto critica. Aliás, os maiores adeptos de uma “cultura do cancelamento”, para silenciar qualquer visão oposta à sua (essa decorrente do conceito de “patrulha ideológica”, que havia tanto nos Anos 60 e 70, de que não se podia ver tal peça, ler tal filme, ler tal livro, sob a pena de ser excluído de determinado círculo social), sempre se fez forte em setores que se denominam “progressistas”.
Posto isso, as críticas que são feitas (de que o Brasil adora apagar a sua própria história – como se isso não fosse um problema global de países, particularmente do mundo ocidental, que cada vez abandonam mais seus valores e tradições, investem menos em educação de qualidade – aula de Geografia, por exemplo, como trazido em parágrafos anteriores, seria essencial –, em prol de uma onda politicamente correta), tornam-se cansativos e esquecidos em toda narrativa.
Uma crítica interessante sobre o apagamento da memória coletiva que o filme faz, é o apagamento do Cinema de rua, em Recife (sem querer dar spoiler, mas o filho do personagem principal, ao fim trabalha num hospital que antes era um cinema de rua), mas esse é um problema nacional, não apenas local pela própria decadência e aumento da violência dos grandes centros urbanos – aqui em SP havia mais de cem cinemas de rua, na década de 50, hoje são menos de dez (todos tomados por grandes cadeias cinematográficas, em shopping centers). No Rio é a mesma coisa. Isso realmente é uma lástima em termos de exibição para o Cinema, e da memória coletiva do país.
Sem querer transformar o texto cansativo, outro filme que achei bem sem pé nem cabeça é Uma Batalha Após a Outra (2025), do Paul Thomas Anderson, também está laureado como um dos melhores filmes do ano (tanto O Agente Secreto quanto One Battle After Another - OBAA estão na lista dos melhores filmes do ano, do ex-Presidente Barack Obama).
O filme tem boas cenas de ação e o personagem do Leonardo DiCaprio, um ex-revolucionário que atualmente vive paranoico e escondido com sua filha adolescente é bem construído e interpretado (o cinquentão DiCaprio, que na vida real apenas namora modelos de 20 e poucos anos, teria a idade certa para ter uma filha adolescente na vida real, como bem observou a hilária atriz Jennifer Lawrence em entrevista recente).
No entanto, tirando críticas relevantes, jogam um monte de elementos no arco narrativo, sem sentido algum, e o personagem militar do Sean Penn em OBAA é um dos personagens mais mal construídos, em suas ações e motivações, que já vi na vida… (aliás, o que militar faria liderando um grupo de combate ao terrorismo doméstico/grupos insurgentes dentro dos EUA? Não existe o FBI, a Polícia Federal deles, para isso?!).
Nesse sentido, parece uma verdadeira desconstrução da linguagem e da narrativa, imposição de uma crítica social (o personagem é um racista/xenófobo sem um contexto, sem uma evolução do personagem, fala as coisas mais absurdas que ninguém falaria em público, nem se o sujeito fosse preconceituoso), por uma imposição política (o sulista, em O Agente Secreto; o republicano de um grupo patético de empresários, em OBAA), enfim, talkey...
Ou talvez esteja ficando velho, mas como um milenium, apaixonado por cinema,
que cresceu assistindo filmes como adolescente nos anos 90, quando os grandes
diretores contemporâneos estavam em atividade, realmente não entendo muitos
filmes de hoje, salvo, talvez, a desconstrução da narrativa, a fim de um
propósito ideológico.
Enfim, havia filmes políticos melhores
no passado, com críticas mais consistentes de cineastas progressistas, a
exemplo de Z, Missing e Estado de Sítio, todos de diretor franco-grego,
Costa-Gavras, que, a meu ver, tratavam o público com mais honestidade
intelectual.