Por
Olavo Franco Caiuby Bernardes, Professor de Direito
(Publicado no Primeiro Semestre de 2017, na Mostra de Pesquisa em Ciência e Tecnologia
2017 da DeVry Faci)
Relato baseado em experiência própria.
Sempre tive interesse no que constitui a verdade e buscar a
verdade dos fatos, não apenas pautar minhas opiniões em impressões pessoais.
Durante o ensino no Brasil, sempre senti interesse em me
aprofundar nos assuntos tratados pelos professores, porém muitas vezes senti o
método utilizado em sala de aula ser cansativo, pela ênfase de alguns docentes
em puramente expor o conteúdo em sala de aula, abrindo pouco espaço para
discussão do mesmo.
O filósofo Platão já entendia ser o conhecimento como a crença
verdadeira e fundamentada sobre algo (conhecimento – do latim, cognoscere,
“saber, conhecer”, com – junto, mais gonoscere, “saber”, derivado do
grego gignoskein, “saber”).
Como esclarece Platão, para se buscar o conhecimento devemos nos
livrar de nossas impressões e superar o mundo sensível, para atingir o mundo
inteligível para ter um real conhecimento dos seres.
A missão do homem seria alcançar as ideias pela sua razão,
pelo pensamento reflexivo que abstrai todas as particularidades físicas e
sensitivas, uma vez que o inteligível transcende o sensível e as ideias são
espirituais.
Desse modo, para Platão, o conhecimento tem que
descrever a realidade, o que torna necessária à sua aplicação e comprovação no
mundo real como a antecipação de uma realidade futura.
Há diversas maneiras de se atingir, o conhecimento, ou a crença
fundamentada sobre algo, sendo que o conhecimento se adquire sobretudo através
de um método (do latim, methodus, que significa “caminho”, no caso
do conhecimento, caminho para ir em busca de algo).
Entre
métodos de ensino, mais ou menos conhecidos, podemos citar o tradicional,
construtivista, freireano, comportamentalista, waldorferiano, freiteano, entre
outros.
O
filósofo e educador norte-americano, John Dewey (1859-1952), patrono de nossa
instituição, um dos precursores da Escola Nova, afirmava que o método de ensino
precisa ser redimensionado, porque não considerava o pensamento, e que este
precisa ser colocado em movimento (LACANALLO et al. , p. 9).
Os métodos deveriam, assim, explorar a curiosidade, as dúvidas e
incertezas, a continuidade das idéias, a investigação, a observação e a
experimentação (LACANALLO et al. , p. 10).
Para Dewey, raciocinar é algo natural, mas cabe à escola
transformar este raciocínio em um exame crítico no qual o espírito do aluno se
interesse pelos problemas e se empenhe em buscar formas para solucioná-los de
maneira útil. Sendo assim, os materiais precisariam despertar o interesse sem
rigidez dogmática, fornecendo informações que permitissem a integração com
aquelas que já se possuía num todo coordenado, fazendo parte das experiências
do que vem receber aquela informação (LACANALLO et al. , p. 10). Dewey,
recorda-se era adepto da escola pragmática de pensamento.
A experiência (do latim experientia, -ae, ensaio, prova, tentativa), como auxiliar ao método de
ensino, faz-se extremamente importante na docência. Alunos tendem a
participar mais da aula, quando se põem concretamente na situação tratada em
sala, partindo de raciocínios indutivos (exemplo: no meu bairro o poder público
e a criminalidade está fora de controle, logo poder público ausente, leva a um
aumento da criminalidade), ou seja, experiências pessoais e sensações, para se
chegar em uma conclusão maior; ou dedutivos (exemplo “a democracia é o pior de
todos os sistemas, com exceção de todos os outros”, Churchill), uma crença
genérica sobre algo para observar-se concretamente se esse é o caso no mundo
real.
Nesse sentido, o chamado “método socrático”, largamente adotado em
instituições norte-americanas de ensino, sobretudo de Direito, faz-se
extremamente relevante para nossa instituição, e amplamente coadunam com as
idéias trazidas por Dewey para a docência.
Como professor e aluno de Direito, tendo
transitado entre o sistema brasileiro e o sistema norte-americano de educação,
sempre me interessou fortemente o chamado "método socrático", baseado
nas obras e estudos do filósofo grego, Sócrates (469 - 399. a.C). Sócrates se
fez conhecido por desenvolver método dialético no qual interagia com seus
interlocutores e tentava extrair destes um raciocínio lógico, baseado nas
premissas de suas indagações.
Desse modo, Sócrates buscava maneiras que o
indivíduo encontrasse suas próprias respostas, sendo confrontado no percurso em
seus preconceitos e visões por demais estreitas da realidade.
Para tanto, Sócrates muitas vezes se utilizava
largamente do recurso da ironia. Sócrates, fez-se autor que trouxe pensamento
em essência humanista à filosofia (o homem no centro das discussões
filosóficas), em contraposição a autores pré-socráticos, divididos pelo grande
filósofo pós-socrático, Aristóteles ((384 a.C. – 322 a.C), entre “aqueles que
discorrem sobre a natureza”, e “aqueles que discorrem sobre os deuses”.
A "práxis" (modo de ação) socrateana
veio a ser denominada "método socrático", e trouxe sérios problemas
em vida ao renomado filósofo, que por ser um indagador de diversos valores
morais e religiosos então existentes, veio a ser acusado em tribunal composto
de cidadãos de Atenas de subverter à ordem social, corromper a juventude e
negar os deuses. Condenado, Sócrates foi levado a escolher as seguintes penas:
a) a pena de banimento permanente; b) a pena de ter a língua cortada, para que
não pudesse pregar mais seus valores, c) ou a pena de morte.
Em suas próprias palavras, Sócrates, aceita então,
“o desconhecido”, a pena capital (em oposição ao banimento e ter sua voz
calada, algo impensável para aquele pensador), e bebe copo de veneno, conhecido
por cicuta, vindo a falecer perante amigos e discípulos aos setenta anos de
idade.
Entre seus discípulos, destaca-se, Xenofonte (430
- 355 a.C.), e seu pupilo mais conhecido, Platão (428 - 348 a.C).
Sócrates, que não deixou escritos em vida (o que
levou à suspeita de que este fosse um personagem fictício criado por Platão,
que o menciona extensamente em diversos escritos, sobretudo em "Apologia
de Sócrates"), plantou semente interessante ao método da docência, na
própria relação a ser estabelecida entre alunos e mestres.
O método socrático, veio a ser sobreposto pela
denominada "Escola Escolástica", ou método tomasiano, por ter sido
sumarizada pelo autor medieval São Thomás de Aquino (1225-1274), em sua Summa
Theologica, escola esta que se baseia fortemente na dialética (contraposição e
contradição de ideias) e na inferência para resolver contradições.
Referido método, adotado durante boa parte em
universidades durante o período medieval, pressupõe fortemente a obediência de
alunos (do latim 'alumno' - ausência de luz) ao professor/mestre, e forte
acatamento ao conhecimento expositivo que este demonstra/expõe em sala de aula.
No entanto, o método socrático vem sendo
resgatado, sobretudo no sistema anglo-saxão, a partir do Século XIX. Agora,
busca-se um diálogo entre o professor e o aluno, procurando o professor a
instigar no aluno um processo de reflexão e descoberta dos seus próprios
valores.
O método socrático necessita de grande imersão do
discente em estudos, para que chegue preparado à sala de aula, e este venha a
debater com o professor o conhecimento adquirido.
Infelizmente, no Brasil, alunos muitas vezes não
se preparam previamente à sala de aula para debaterem o conteúdo pré-adquirido
e esperam que o professor venha a compartilhá-lo por completo.
Ademais, professores ocasionalmente não têm a
humildade de reconhecerem que não possuem todo o conhecimento acerca de
determinada disciplina. Portanto, para que o método socrático venha a
plenamente funcionar em um país como o Brasil, de tradição civilista, faz-se
essencial uma abordagem mais humilde, indagadora e curiosa tanto do docente,
quanto do discente, perante o conhecimento.
Fontes (parcial):
Conhecimento para Platão e
Aristóteles: Visão dos Filósofos e Teorias.
Disponível em: <http://essaseoutras.xpg.uol.com.br/conhecimento-para-platao-e-aristoteles-visao-dos-filosofos-e-teorias/>.
Acesso em maio de 2017.
LACANALLO, Luciana Figueiredo; SILVA, Sandra Salete de Camargo;
OLIVEIRA, Diene Eire de Mello Bortotti; GASPARIN, João Luiz de; TEUYA, Teresa
Kazuko. Métodos de Ensino e de Aprendizagem: Uma Análise Histórica e
Educacional e Educacional do Trabalho Didático. Sem data. Disponível em:
<http://www.histedbr.fe.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada7/_GT4%20PDF/M%C9TODOS%20DE%20ENSINO%20E%20DE%20APRENDIZAGEM%20UMA%20AN%C1LISE%20HIST%D3RICA.pdf>.
Acesso em maio de 2017.
Resumo Publicado nos Anais da Mostra de Pesqueisa em Ciência e Tecnologia 2017 - https://www.even3.com.br/anais/mpct2017/45982-a-experiencia-do-metodo-socratico/