Monday, October 8, 2012

“Intocáveis” e as Barreiras que Nos Separam


“Intocáveis” e as Barreiras que Nos Separam

Confesso que sempre gostei da França, então sou meio suspeito para falar de “Intocáveis”, porém o filme é maravilhoso por diversos motivos.

Sempre senti uma ânsia de conhecer mais pessoas, de saber suas histórias, vivências, medos e desejos. No Brasil vivemos muitas vezes numa barreira social, integrando-se com pessoas com históricos de vida similares ao nosso. É o chamado “apartheid social”, tão inteligentemente cunhado pelo senador Cristovam Buarque.

O filme trata desse desejo de transpor barreiras sociais. No filme, Philippe, um milionário paralitíco interpretado por François Cluzet é auxiliado no seu dia a dia por Driss, um jovem senegalês, da periferia (os banlieues) e com passagem na polícia interpretado magistralmente por Omar Sy.

Ele é o pior dos candidatos para ajudá-lo, desbocado, despreparado, autêntico. Seria tudo que se pensaria do contrário do personagem servil que normalmente se esperaria àquela posição e que representam todos os outros candidatos.

Ma é aí que está a beleza do filme: Philippe precisa de Driss. Para se sentir vivo, para se sentir amado, para se sentir livre daquela cambada de puxa sacos que o cercam.

Driss às vezes esquece e lhe passa o telefone, faz cantadas em sua secretária, enfrenta sua filha mimada, recusa a a dar lhe doces em certa ocasião por discordar de um valor pago por um quadro... Philippe apresenta-lhe ao mundo da alta cultura, da música clássica, da fina cozinha. Enquanto Driss traz toda a espontaniedade da periferia. Ambos fazem coisas extraordinárias juntos: saltam de paraglider, fumam maconha, viajam, vão ao prostíbulo. Disso surge uma bela amizade, por sinal baseada numa história real, sem qualquer grau de hierarquia entre um e outro.

Dizem que todos, do mendigo da Praça da Sé à presidente da República, estamos a seis graus de separação. O filme mostra isso. E quem sabe esses graus sejam mais próximos que imaginamos.