“Intocáveis” e as
Barreiras que Nos Separam
Confesso que sempre gostei da França, então sou meio suspeito para
falar de “Intocáveis”, porém o filme é maravilhoso por diversos motivos.
Sempre senti
uma ânsia de conhecer mais pessoas, de saber suas histórias, vivências, medos e
desejos. No Brasil vivemos muitas vezes numa barreira social, integrando-se com pessoas com históricos de vida similares ao nosso. É o chamado “apartheid social”, tão inteligentemente
cunhado pelo senador Cristovam Buarque.
O filme trata desse desejo de transpor barreiras sociais. No filme, Philippe,
um milionário paralitíco interpretado por François Cluzet é auxiliado no seu dia a dia
por Driss, um jovem senegalês, da periferia (os banlieues) e com passagem na
polícia interpretado magistralmente por Omar Sy.
Ele é o pior dos candidatos para ajudá-lo, desbocado, despreparado,
autêntico. Seria tudo que se pensaria do contrário do personagem servil que
normalmente se esperaria àquela posição e que representam todos os outros candidatos.
Ma é aí que está a beleza do filme: Philippe precisa de Driss. Para
se sentir vivo, para se sentir amado, para se sentir livre daquela cambada de
puxa sacos que o cercam.
Driss às vezes esquece e lhe passa o telefone, faz cantadas em sua
secretária, enfrenta sua filha mimada, recusa a a dar lhe doces em certa
ocasião por discordar de um valor pago por um quadro... Philippe apresenta-lhe ao
mundo da alta cultura, da música clássica, da fina cozinha. Enquanto Driss traz
toda a espontaniedade da periferia. Ambos fazem coisas extraordinárias juntos:
saltam de paraglider, fumam maconha, viajam, vão ao prostíbulo. Disso surge uma
bela amizade, por sinal baseada numa história real, sem qualquer grau de
hierarquia entre um e outro.
Dizem que todos, do mendigo da Praça da Sé à presidente da República,
estamos a seis graus de separação. O filme mostra isso. E quem sabe esses graus
sejam mais próximos que imaginamos.