Tuesday, July 8, 2025

Diálogos Interrompidos

Diálogos Interrompidos 

(Texto escrito para a Oficina Literária do CAP)

Olavo Caiuby Bernardes

Diálogos modernos, uma discordância, um comentário entendido de forma errada, um ponto de vista equivocado, um descordo político, um momento de stress, um mero dessabor pessoal, um rompimento de namorados, solidariedade de amigos com o rompimento do casal, ou mesmo o ciúme de um novo namorado, ou namorada a um contato, que se tem em redes, cancela-se.

Seja por uma rede, a exemplo de Facebook, Instagram, LinkedIn, WhatsApp, ou uma combinação de várias, leva-se ao limbo aquele interlocutor. A partir do momento ele, ou ela, não é mais nada, um fantasma do que foi. Relacionamento fluídos, nada feito para durar.

O pensador polonês, Zygmunt Bauman já dizia que o melhor das relações virtuais não é a capacidade de se fazer amizade, mas a capacidade de desfazê-las. Relações pessoais são duradouras, demandam esforços, são uma verdadeira construção.

Mundo binário, cada vez mais intolerante, de falta de debate e empatia com o ponto de vista do outro, e/ou com o sofrimento e momento que o outro está passando. E com isso uma juventude cada vez mais triste, que não sabe interagir.

O ser humano acaba vez mais desconsiderado em sua individualidade, ao ser cancelado na vida virtual, percebe-se um encerramento da tolerância na vida real. Quando às vezes ainda muito havia a se dizer entre interlocutores.

Saturday, May 3, 2025

Minhas memórias do Rio

 

Minhas memórias do Rio

 (Texto escrito para a Oficina Literária do CAP)

Olavo Caiuby Bernardes

 

Nasci no Rio, na casa onde cresci em São Conrado tinha jabuticabeira e uma arara que dizia arara todo dia.

A casa ficava abaixo do nível do mar, e quando chovia muito alagava.

Tínhamos um cão que era super-diferente, West Highland White Terrier, o Ubaldo (nome do irmão do meu bisavô, Olavo), o primeiro do Brasil. Ele sofria muito pois era peludo e não suportava o calor. Tínhamos também uma pastora-alemã, a Axé, que era um amor com todo nós, mas que era uma fera com qualquer estranho na rua.

Gostava de ir no Bob’s, mas achava a batata muito salgada. Aprendi a andar de bicicleta sem rodinha, como muitos cariocas, no calçadão de Ipanema e Copacabana. Ia na piscina do Hotel Intercontinental, em São Conrado, onde havia um bar molhado no meio da piscina, que achava a coisa mais extraordinária. Também gostava muito do Jardim Botânico e da fonte de água natural, e pude levar minha filha lá recentemente.

Tínhamos também um saveiro (uma espécie de veleiro), que ficava ancorado na Marina da Gloria, que velejávamos o final de semana. O marinheiro tinha um ratinho branco, que ficava andado de cima para baixo na proa do barco.

Estudei no Maternal, perto de casa, e no Jardim de Infância, esse último em escola alemã, no Corcovado. Rezávamos o Pai Nosso em alemão, e lembro-me que cantávamos o Hino Nacional do Brasil e Alemanha. Uma vez fizeram um bolo gigante de metros de altura, de aniversário da escola. Nas férias e feriados íamos para São Paulo visitar meus avôs, muitas vezes de trem, algo que infelizmente não existe mais...

Quando tinha sete anos, meus pais, que são ambos paulistanos, voltaram para São Paulo, para depois virem a se divorciar um ano depois, e minha experiência do Rio acabou. Ainda lembro da arara e da fonte de água do Jardim Botânico, que pude levar minha filha recentemente, para ela, nova geração, já perguntar se é água filtrada e se podia tomá-la...

Thursday, March 13, 2025

Minhas Impressões do Oscar 2025

Conclave e Anora ganharam Roteiro Adaptado e Melhor Roteiro Original. Ambos são excelentes!

Talvez forçaram em dar o Oscar de Melhor Atriz, para a Mikey Madison (que, diga-se de passagem, está ótima no papel, da personagem título do filme), ao invés da então preferida Demi Moore por A Substância (muito bom filme, lembra filmes do David Cronenberg, como Dead Ringer/Gêmeos - Mórbida Semelhança, e A Mosca, mas o filme/climax do filme é bastante decepcionante), ou Melhor Filme para Anora (e diretor para Sean Baker, de The Florida Project, entre outros).

De qualquer modo, é uma grande vitória para o cinema independente, tendo sido produzido e distribuído pela Neon, produtora independente em crescimento, desde que Parasita, filme sul-coreano distribuido por aquela produtora/distribuidora no mercado internacional, 
 ganhou o Oscar em 2020  (seu principal concorrente esse ano foi O Brutalista, produzido e distribuído pela A24, produtora independente que igualmente vem crescendo bastante, com inúmeras nomeações nos últimos anos - foram deles, por exemplo, Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo, e A Baleia, que foram os principais premiados, no Oscar 2023). 

Achei que O Brutalista faltou alguma coisa, sua segunda parte é bem mais irregular que a primeira e o personagem de László Tóth, imigrante húngaro, nos EUA, pós-Segunda Guerra, arquiteto judeu, do novamente oscarizado Adrien Brody, não me convenceu plenamente (além das críticas do uso de IA, para suavizar seu sotaque americano, nas cenas que fala em húngaro).

Teria dado a atuação para o Ralph Fiennes, pelo Cardeal do Vaticano, Thomas Lawrence, em Conclave (na sua terceira indicação ao Oscar), interpretação bem mais convincente e humana... Não assisti Emilia Perez mas teria dado o Oscar de Atriz Coadjuvante, para a Isabella Rosselini, também por Conclave, até por toda sua carreira (incrivelmente, essa atriz lendária de filmes como Veludo Azul, do recém-falecido David Lynch, de quem foi parceira durante anos, e filha da - três vezes oscarizada - atriz sueca Ingrid Bergman, e do diretor italiano, Roberto Rosselini - de clássicos do neorrealismo italiano, como Roma, Città Aperta/Roma, Cidade Aberta -, estava em sua primeira nomeação)!

Para Ator Coadjuvante Jeremy Strong (maravilhoso em The Apprentice), Edward Norton (comentários abaixo)  e Guy Pearce (bom em O Brutalista, apesar de não ter gostado das escolhas que fizeram para seu personagem), mereciam talvez mais que o Kieran Culkin, que sempre interpreta uma versão de si mesmo (a despeito de A Real Pain ser um bom - mas talvez não excelente - filme). Melhor Filme Internacional realmente só podia ser Ainda Estou Aqui, do Brasil (ou Flow, da Letônia), Emília Perez, que é francês, mas passa no México, foi mal avaliado pelo público, além de ter sido considerado ofensivo aos mexicanos!

Minhas impressões...

No mais, assisti A Complete Unknown sobre o Dylan, e achei excelente. O Timothée Chalamet me impressionou, como o Bob Dylan em começo de carreira (Edward Norton - na sua quarta nomeação -, como seu agente, Peter Seeger, e Monica Barbaro - igualmente nomeada -, como a cantora Joan Baez, estão ótimos também)!
Filme com um ótimo ritmo. Trilha sonora maravilhosa com clássicos do Dylan!
Teria ficado satisfeito com Chalamet, ou o Ralph Fiennes terem levado Melhor Ator. A interpretação do Brody, mais uma vez, não me convenceu...


Nas fotos, Mikey Madison e Sean Baker, de Anora, 
com seus Oscars



Saturday, March 8, 2025

O que ficou para trás

O que ficou para trás
Por Olavo Caiuby Bernardes

O que ficou para trás em passado, de momentos criados, momentos vividos, momentos trazidos, não traz momentos que possam ser repetidos.

No entanto, momentos nos deixam marcas, lembranças, aprendizados. Momentos são estruturados para criar o que somos.

O que somos, o que trazemos, o que vivemos, são reminiscências de nossas experiências, memórias para levar a vida inteira.

Memórias que ao fim podem moldar nossa personalidade, ao menos nosso cárater, nossos valores.

Memórias para serem estudadas, para serem aperfeiçoadas, para buscar o que há dentro de nós, mas jamais descartadas. Pois ao fim podemos buscá-las para evoluir.